Guia para Pacientes – Cistectomia Radical e Derivação Bricker
🔹 O que é a cirurgia?
A cistectomia radical é a retirada completa da bexiga urinária porque ela está tomada por um tumor.
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No homem: também retiramos a próstata e as vesículas seminais (glândulas que produzem parte do sêmen). Isso significa que não será mais possível ejacular ou ter filhos naturalmente. A potência sexual (ereção) pode ser prejudicada, mas existem tratamentos de reabilitação.
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Na mulher: além da bexiga, retiramos o útero, ovários, trompas e a parte da frente da vagina. Em alguns casos especiais é possível preservar parte desses órgãos. Isso pode impactar fertilidade, lubrificação vaginal e vida sexual, mas existem estratégias de reabilitação.
🔹 O que é o Bricker (derivação urinária em alça ileal)?
Como a bexiga é retirada, precisamos criar uma nova saída para a urina.
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Usamos um pedacinho de intestino delgado (15 a 20 cm).
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Costuramos os ureteres nesse pedaço.
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Esse tubo é levado até a pele da barriga e aberto, formando um estoma (uma nova “boca” de saída da urina).
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A urina passa a sair continuamente por esse estoma e é coletada em uma bolsinha adesiva que o paciente usa na barriga.
Isso chama-se derivação Bricker. É segura, prática e tem menos complicações do que outras reconstruções (como a neobexiga).
🔹 O que é o cateter duplo J?
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Durante a cirurgia, colocamos dois cateteres fininhos que ficam dentro dos ureteres, ajudando na cicatrização da costura entre ureteres e intestino.
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Esses cateteres não aparecem por fora, ficam totalmente dentro do corpo.
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Normalmente são retirados de 2 a 6 semanas após a cirurgia, em procedimento rápido e simples (via endoscopia ou pelo estoma).
🔹 Antes da cirurgia
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Exames e preparo:
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Tomografias e exames de sangue para confirmar que o tumor está restrito.
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Avaliação do coração e pulmão, já que a cirurgia é longa.
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Exames de função renal, pois o rim precisa funcionar bem.
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Hábitos e saúde:
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Parar de fumar diminui muito o risco de complicações.
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Melhorar a alimentação e evitar perda de peso.
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Atividade física leve ajuda a fortalecer corpo e pulmão.
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Treinamento:
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Consulta com enfermeira estomaterapeuta para aprender a cuidar da bolsinha.
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Explicação clara dos impactos da cirurgia na urina, sexualidade e qualidade de vida.
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🔹 Durante a cirurgia
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O paciente fica de 8 a 10 horas em centro cirúrgico.
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Retiramos a bexiga, os órgãos citados (dependendo do sexo) e os linfonodos da pelve (gânglios de defesa).
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Fazemos a derivação Bricker e instalamos o estoma.
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Colocamos drenos e cateteres (duplo J).
🔹 Depois da cirurgia (internação)
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Tempo médio no hospital: 7 a 14 dias.
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Primeiros dias: jejum ou dieta líquida, soro na veia, analgesia e antibiótico.
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Estímulo para levantar e caminhar cedo → ajuda o intestino a funcionar e previne trombose.
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Treinamento prático de troca e manuseio da bolsinha.
🔹 Riscos da cirurgia
Toda cirurgia grande tem riscos. Os principais são:
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Imediatos (até 30 dias):
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Sangramento (pode precisar de transfusão).
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Infecção (na urina, pulmão, ferida operatória).
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Complicações do intestino (demora para funcionar, fístulas).
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Problemas no estoma (vazamentos, vermelhidão, irritação da pele).
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Trombose/embolia pulmonar → risco alto por ser cirurgia longa. Prevenimos com meias elásticas, anticoagulantes e caminhada precoce.
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Tardios (meses/anos):
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Estenose (estreitamento na ligação do ureter com o intestino).
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Pedras nos rins ou no conduto.
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Infecções urinárias repetidas.
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Alterações no sangue: perda de bicarbonato pelo intestino → pode causar acidose metabólica, tratável com medicação.
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Problemas sexuais: disfunção erétil no homem, secura vaginal e dor nas mulheres.
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🔹 Vida após a cirurgia
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A urina passa a sair continuamente para a bolsinha. Ela deve ser esvaziada várias vezes ao dia e trocada em média a cada 3–5 dias.
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O paciente aprende a cuidar do estoma sozinho, mas sempre pode contar com acompanhamento de enfermagem especializada.
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A vida continua normal: pode trabalhar, viajar, se exercitar e até nadar com segurança.
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O acompanhamento médico é contínuo: consultas periódicas, exames de imagem e laboratoriais para vigiar o rim e descartar retorno do tumor.

Como funciona o Bricker (Ileal Conduit)
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A bexiga é removida e um segmento do intestino delgado (íleo) é usado para criar um “canal” que direciona a urina dos rins até um estoma na pele.
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Esse método é chamado de Bricker ileal conduit, é uma derivação urinária incontinente, ou seja, a urina não é armazenada, saindo continuamente para um saco coletor externo.
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É um dos métodos mais usados após cistectomia, por ser relativamente simples e com boa segurança e qualidade de vida.
Cuidados do paciente em casa com o Bricker
1. Nos primeiros dias em casa
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É comum observar muco na urina, resultado do revestimento intestinal presente no conduto.
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Hidratação é essencial: beba bastante líquido (como 2 litros por dia) para ajudar a “diluir” o muco.
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Não dirija enquanto estiver usando analgésicos fortes (opiáceos).
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Evite levantar peso (mais de ~4–5 kg) por cerca de 4 semanas.
2. Estoma e bolsa coletora
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Use uma bolsa coletora adequada ao tamanho do estoma; mudanças frequentes no estoma (mais que 1,3 cm num só dia) podem indicar problema.
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Troque a bolsa a cada 3–7 dias ou imediatamente se houver vazamento.
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Esvazie a bolsa quando estiver entre 1/3 e 1/2 cheia.
3. Cuidados com a pele ao redor do estoma
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Retire a bolsa com cuidado, lave a pele com água (e sabão neutro se necessário), seque bem antes de colocar uma nova bolsa.
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Use pó protetor para estoma se perceber irritação.
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Fique atento a sinais de irritação, vermelhidão ou feridas; procure ajuda se aparecerem.
4. Atividade física e reintegração à vida normal
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Caminhe diariamente, aumente o ritmo conforme for se sentindo melhor.
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A maioria das pessoas retoma trabalho e até prática de exercícios leves — inclusive natação — após adaptação.
5. Sinais de alerta — quando entrar em contato com seu médico
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Febre, dor, vermelhidão ou pus na ferida cirúrgica.
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Pouca ou nenhuma urina chegando à bolsa.
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Estoma muito pálido ou escuro, ou que sangra, incha ou muda de formato.
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Dor nas costas (proximidades dos rins) ou urina com sangue.
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Constipação ou sem gases por 3 dias, ou vômitos persistentes.
Conteúdo de caráter informativo, não substitui consulta médica.
